Este é um trabalho desenvolvido para disciplina de Desenho de Mobiliário, ministrada na cidade de Palmas - TO pela prof.ª Aparecida Borges, no dia 12 de Junho de 2011.
Arqtº Adriano Tenório Pereira, 04 de Julho de 2011
Nascido na França em 1922, chegou ao Brasil em 1948, onde iniciou seus estudos em Arquitetura, tendo, inclusive, a oportunidade de estagiar voluntariamente por dois anos no escritório do então já famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Antes mesmo de formar-se demonstrou seu interesse pelo design de mobiliário ao associar-se ao arquiteto escocês Norman Westwater, que trabalhava com cenografia e produzia móveis.
Entretanto, a situação econômica do pós-segunda guerra desvelou uma grande crise econômica que obrigou países sub-desenvolvidos, como o Brasil, a desenvolver sua produção fabril, já que a Europa em reconstrução havia deixado de exportar a maioria de seus produtos. Ciente dessa situação, Michel Arnoult procurou conceber mobiliário de qualidade que fosse acessível às grandes massas; assim iniciou a criação de linhas que pudessem ser produzidas em larga escala sem perder sua qualidade estética e, principalmente, sua funcionalidade. Em suas criações via-se grande influência do Lifestyle inglês, movimento da década de 1940 que propunha artigos econômicos para consumidores de qualquer classe.
Para isso aproveitou-se dos conceitos criados para a produção fabil que maximizavam a eficiência na produção em série: a menor quantidade de peças moduladas possível para fabricar móveis inteiros, negligenciando tendências da época de produzir móveis sob encomenda. Com esse mesmo pensamento, produzia peças duráveis e de fina qualidade, repudiando o consumismo obsessivo pregado pelo capitalismo selvagem vigente na época em todo o mundo e dando grande impulso à produção fabril de móveis no Brasil.
Em 1970 criou o conceito Peg-Lev, onde os móveis seriam desmontáveis e poderiam ser vendidos em lojas de departamentos. Entretanto, devido à não aceitação deste tipo de conceito e da concorrência de outras empresas, o projeto foi descontinuado e sua marcenaria foi fechada em 1973, passando a trabalhar para outra fábrica até fins dos anos 80, quando retomou sua produção independente, pregando a criação de mobiliários voltados para as realidades sociais e econômicas de cada país. Seu manifesto estava alinhado com as idéias publicadas no livro Design for the Real World, de 1971, de autoria de Victor Papanek.
Cadeira Peg-Lev - 1970 |
Outra peça que demontra essa linha é a Cadeira Ouro Preto, concebida em 1958 e vencedora do Prêmio Roberto Simonsen de Desenho Industrial de 1964. Com sua estrutura de imbuia maciça torneada, molejo de monofios de nylon e almofadas soltas, a cadeira fez grande sucesso nas décadas de 60 e 70, sendo fabricada até os dias atuais.
Cadeira Ouro Preto - 1958 |
A partir do fim da década de 80, Arnoult incorpora o discurso ecológico às suas ideologias, passando a idealizar móveis feitos em eucalipto de reflorestamento. Em 2003, inscreveu sua poltrona de balanço Pelicano na 17ª edição do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, saindo vencedor do mesmo. Ela concentrava todos os conceitos apregoados por seu criador: leve, barata e de fácil desmonte, a lona que compunha o assento era composto de algodão e sua estrutura era de madeira ecologicamente correta.
Poltrona Pelicano - 2003 |
Seu desejo por manter o mobiliário ao alcance de todos fez com que desenhasse vários modelos exclusivos para lojas de departamentos, como as linhas Shaker, Prisma, Pop, Flip, Tie e Zazá. Faleceu no ano de 2005, deixando ainda três linhas inéditas, lançadas também por lojas de departamento, conforme seu desejo: as linhas Gwen e Garden, desenhadas no ano de 2004, e a linha Trio, do início de 2005. Todas se baseiam no reaproveitamento de ripas de eucalipto reflorestado de 7cm x 22cm, componíveis através de encaixes cavilhados para agilizar o processo produtivo. Também são marcantes nestas linhas o conceito de “conforto duro”, abordado por Arnoult desde meados do XX, com o qual dizia ser possível aliar conforto, qualidade e design apenas com madeira.
A partir da esquerda: Linha Trio - 2005 e Linhas Gwen e Garden - 2004 |
De modo geral, o design de suas peças não evoluiu ao longo dos anos, abordando uma mesma linguagem, o que não significa que suas obras mais recentes careçam de qualidade ou pareçam antiquadas. Ao contrário: suas criações dão indícios de possuir o estado-da-arte, visto que abordam questões de preocupação ambiental e econômicas tão presentes na atualidade, enquanto suas formas retas e curvas, habilmente combinadas, são agradáveis e traduzem todo o conforto que suas peças, de fato, tem. Segundo suas próprias palavras,
“É verdade, eu faço o mesmo programa há 30 anos, com a paixão da madeira e do produto bem-feito. Não me interessa essa busca da novidade. Aliás, a evolução do mobiliário é zero. Desde Tutancâmon a cadeira como projeto é a mesma.”
Miniaturas que Michel Arnoult desenvolvia enquanto trabalhava em suas peças |
Nenhum comentário:
Postar um comentário